
O Que Podemos Tirar de Lição da Onda de Pedidos de Demissões nos Estados Unidos
Nos últimos meses os Estados Unidos encararam uma onda de abandono massivo e voluntário de empregos, atingindo a marca de 4 milhões de pedidos de demissão por mês, tornando difícil para as empresas manterem suas atividades.
Empresas de todos os portes e de diversas áreas da economia relatam a dificuldade de preencherem as vagas de trabalho presencial, resultando em paralisação total ou parcial da atividade por ausência de trabalhador.
Considerando que o grande problema do mundo sempre foi o desemprego, o país mais rico do mundo se deparou com uma situação inversa e na medida que a recuperação econômica pós pandemia avançava, mais era a percepção de que a falta mão de obra pode ser um impeditivo para essa retomada.
Esse movimento ocorre desde abril de 2020 e está sendo observado com surpresa pelo mundo inteiro. Diversos pesquisadores começaram a estudar os motivos desse acontecimento para ver se isso pode se alastrar pelo mundo e essa análise é de extrema importância para entendermos um pouco sobre o futuro do trabalho e também o que todos podem fazer para evitar isso.
Sob o enfoque mais filosófico, na pandemia todos perceberam que a qualquer momento a vida termina, isso acrescido com o ócio imposto pelo desemprego ou diminuição de trabalho fez com que houvesse um questionamento pessoal sobre a importância de viver de forma mais plena com um trabalho que tenha mais significado. Aí veio a resistência em retornar às condições de trabalho anteriores a pandemia.
Observem também que durante um período, os trabalhadores foram obrigados a trabalhar de casa, experimentando uma melhora em sua qualidade de vida em diversos aspectos (convívio familiar, alimentação saudável, tempo para seus hobbies) e ao mesmo tempo diminuíram seus gastos ou receberam auxílios governamentais.
Todos esses fatores colaboraram para o que vem ocorrendo nos Estados Unidos. Mas por que esse movimento não se alastrou na zona do euro?
Interessante, que apesar de insatisfeitos com o retorno do trabalho presencial, os trabalhadores da zona do euro não se “revoltaram” e as empresas europeias nãos enfrentam ausência de mão de obra como nos Estados Unidos.
E um dos motivos disso, segundo são os direitos trabalhistas e a representatividade de sindicatos fortes existentes na zona do euro, que não existe nos Estados Unidos. E é nesse ponto que queria chegar, na importância da proteção dos trabalhadores e da negociação coletiva entre as partes para evitar um colapso na área trabalhista.
Veja que a maior adesão sindical existente na Europa e as negociações coletivas mais extensas entre empregadores e trabalhadores implicam em formas alternativas de mostrar insatisfação (e negociá-las) que não são por meio do pedido de demissão. O ambiente de trabalho na zona do euro favorece mais a proteção do emprego em vez da flexibilidade como é nos Estados Unidos.
A zona do euro (que exclui o Reino Unido) possui uma homogeneidade dos salários diante da elevada desigualdade salarial nos EUA, e os benefícios trabalhistas como férias, licença maternidade, planos de aposentadoria e melhor ambiente de trabalho são incentivos da zona do euro para os trabalhadores (até os menos qualificados) a se manterem no emprego.
Que lição tiramos disso tudo?
Que além do propósito de lucro, a empresa precisa assumir de verdade a responsabilidade de dar um ótimo ambiente de trabalho, ouvindo e acolhendo as expectativas dos trabalhadores. Isso evita a rotatividade, aumenta a produtividade e deve ser implantando em empresas de todos portes e de todas atividades econômicas.
Por meio de negociações coletivas, os sindicatos exercem um papel importante para trazer à mesa de negociação as insatisfações dos empregados e também os objetivos das empresas, para juntos acordarem regras que sejam benéficas para ambos, onde as condições de trabalho sejam boas e humanas resultando em crescimento econômico e do país.
A experiência do escritório realizando negociações coletivas de trabalho, conciliação de conflitos trabalhistas (coletivo e individual), gestão de passivo trabalhista e treinamentos comprovou que indubitavelmente o diálogo entre as partes podem resultar em acordos que ambos saem realmente ganhando.
Indubitavelmente a pandemia trouxe grandes mudanças nas relações sociais, e é imprescindível compreendermos o que mudou nas relações do trabalho para ajustarmos nosso rumo.
Feliz 2022.